17h49 - quinta, 02/08/2018
O sono
Cláudia Silva
A homeostasia é, de forma muito simples, uma função do nosso organismo que regula a sua atividade dentro dos padrões desejados. Por exemplo, se tivermos frio são ativados os mecanismos para repor a temperatura e se tivermos calor os mesmos mecanismos são ativados, mas em sentido contrário.
O sono assume-se como o nosso homeostato de base que coordena todos os pequenos homeostatos do organismo. Quando temos febre dormimos mais para arrefecer o cérebro e, por outro lado, se tivermos muito frio não adormecemos com tanta facilidade.
Para Teresa Paiva, neurologista, especialista em medicina do sono e responsável pelo Centro de Eletroencefalografia e Neurofisiologia Clínica (CENC), o sono é um ganho de tempo intelectual, emocional e físico. Durante o sono são repostas e reorganizadas as funções essenciais à cognição, à memória, à aprendizagem, à criatividade, ao equilíbrio emocional e do corpo. Os ritmos de vida atuais ditados pelas responsabilidades e exigências profissionais tendem a negligenciar as horas de sono que são essenciais para o equilíbrio do organismo. Pensar que o nosso corpo não tem limites é errado, pois os tem bem definidos.
Os nossos relógios biológicos necessitam de regras, que comamos e nos deitemos todos os dias pelas mesmas horas e durante o tempo adequado. É claro que há pessoas mais noctívagas e outras mais matutinas, mas os humanos são animais diurnos. A luz interfere nos ritmos circadianos, pelo que se nos deitarmos, por sistema, muito tarde, assim como nos levantarmos muito cedo pode ser muito perigoso, conduzindo a doenças como o cancro e a demência, diz-nos a neurologista Teresa Paiva.
É fundamental definir os tais limites, ter horários para acordar, comer, fazer exercício, para trabalhar e, muito importante, para acabar de trabalhar. Começar o dia a apanhar sol e caminhar contribuem para um sono reparador, sendo o sol um anti-depressivo gratuito!
Quem trabalha por turnos está sujeito a algo que não é natural e, por isso, têm de ter muitos cuidados. Estabelecendo uma comparação com o deporto, é como se fossem atletas de alta competição em que lhes é exigido um desempenho muito mais complexo!
As doenças do sono permanecem muitas vezes por diagnosticar, chegando ao cuidado de especialistas em fases já muito avançadas e difíceis de tratar. As mais comuns são as hipersónias (sonolência excessiva e/ou sono prolongado) de origem no sistema nervoso, e narcolepsias (diminuição da capacidade de regulação do ritmo de sono e despertar com sonolência inapropriada e irresistível).
Se não dormir bem mais que três vezes por semana durante três semanas, se ressonar, se tiver comportamentos violentos ou disparatados durante a noite e a ausência de horários são sinais de alerta de que deverá procurar um especialista na área do sono. As insónias não se tratam com medicamentos, apesar de Portugal ser um dos maiores consumidores de medicamentos para dormir!
A autora utiliza o
novo Acordo Ortográfico
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