16h31 - quinta, 23/04/2020
Os riscos da emergência
Carlos Pinto
Desde o dia 18 de Março que Portugal se encontra em situação de Estado de Emergência, por decreto do Presidente da República. Uma decisão aprovada pela Assembleia da República, e já renovada por duas vezes (esperando nós que por aí fiquemos), que teve por base a "situação excepcional que se vive e a proliferação de casos registados de contágio de Covid-19" no nosso país.
Foi este enquadramento que levou à aplicação "de medidas extraordinárias e de carácter urgente de restrição de direitos e liberdades, em especial no que respeita aos direitos de circulação e às liberdades económicas, em articulação com as autoridades europeias, com vista a prevenir a transmissão do vírus", justificou o Governo no decreto que regulamentou a aplicação do primeiro Estado de Emergência, aludindo à "prioridade" de "prevenir a doença, conter a pandemia, salvar vidas e assegurar que as cadeias de abastecimento fundamentais de bens e serviços essenciais continuam a ser asseguradas".
O decreto deixava ainda bem vincada uma garantia a todos os portugueses: durante o Estado de Emergência "a Democracia não poderá ser suspensa, numa sociedade aberta, onde o sentimento comunitário e de solidariedade é cada vez mais urgente".
Volvidas estas semanas, e conhecidos todos os números divulgados diariamente pela Direcção Geral da Saúde (21.982 casos positivos em Portugal até quarta-feira, 22, dia do fecho desta edição do "SW"), é por demais evidente que este foi o caminho correcto. Mas é também claro que toda esta situação comportou vários riscos e trouxe ao de cima alguns posicionamentos altamente lamentáveis, sobretudo no plano político, onde o populismo barato e recauchutado galgou a onda da impaciência que, aqui e ali, se foi instalando entre os portugueses obrigados ao confinamento.
É preciso, portanto, voltar à normalidade possível neste tempo anormal. É preciso que todos percebamos que, passado este momento de excepção, temos de continuar a zelar pela liberdade que celebramos há 46 anos. E, sobretudo, é preciso evitar que nos deixemos encantar pelo "canto de sereia" de demagogos baratos, que falam, falam, falam
mas não dizem nada!
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