12h49 - quinta, 16/07/2020
Que futuro para o Interior?
Carlos Pinto
Um estudo científico publicado nesta semana pela prestigiada revista "The Lancet" revela que Portugal poderá chegar ao ano de 2100 com uma população de apenas cinco milhões de habitantes. Ou seja, e de acordo com o mesmo trabalho, Portugal vai estar, dentro de 80 anos, entre as mais de duas dezenas de nações cuja população poderá descer para menos de metade, a par de Espanha, Itália, Japão ou Tailândia.
Numa análise às conclusões do estudo, o director da publicação, Richard Horton, refere estar no horizonte "uma revolução na história da civilização humana", em que "África e o mundo árabe modelarão o nosso futuro, enquanto a Europa e a Ásia reduzirão a sua influência". "No fim do século, o mundo será multipolar, com a Índia, a Nigéria, a China e os EUA como poderes dominantes", acrescenta Richard Horton, citado em comunicado da revista.
A par destas conclusões de âmbito mais "macro", é preciso olhar para as questões "micro". E no caso concreto de Portugal, estimando-se uma redução drástica da sua população e tendo em conta a realidade demográfica actual, deve colocar-se esta pergunta objectiva: que futuro estará reservado para o Interior do país daqui a 80 anos (em 2100)?
Sendo simples de elaborar, esta é uma questão que está longe de ter uma resposta concreta. Muito menos simplista. Mas da mesma resulta uma evidência: é urgente acelerar a estratégia de mitigação do envelhecimento e da desertificação humana a que os territórios afastados dos grandes centros urbanos parecem estar condenados. Até porque não sendo um assunto novo, parece óbvio que as linhas de actuação definidas no plano nacional ao longo dos últimos anos neste domínio estão muito longe de alcançar os seus objectivos.
Por isso mesmo, e numa altura em que uma pandemia nos fez (re)avaliar tudo aquilo que eram prioridades e desafios mais imediatos, é bom que se pense a sério neste problema. Caso contrário, dentro de 80 anos não restará ninguém por estas bandas
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