09h46 - quinta, 22/04/2021
Uma maldade sem justificação
Carlos Pinto
Desde segunda-feira, 19 de abril, que a vida andou "para trás" no concelho de Odemira. Devido à pandemia, e por imposição governamental, o maior município do país (a par de Moura, de Portimão e de Rio Maior) teve de regressar à primeira fase de desconfinamento, com medidas restritivas bastante mais apertadas e que deixaram um misto de desilusão e desalento entre a população odemirense.
A este sentimento junta-se a perceção de esta verdadeira "maldade" feita ao concelho de Odemira assentar na estatística que, por sua vez, tem por base factos e dados que não correspondem à realidade. Ou seja, Odemira foi penalizada por, entre os dias 31 de março e 13 de abril, ter registado mais de 240 novos casos de Covid-19 por cada 100 mil habitantes.
Contudo, esta aritmética não leva em linha de conta aquela que é a população real do concelho, na ordem das 40 mil pessoas devido à presença de muita mão-de-obra temporária para a presente campanha agrícola, mas sim apenas o número de recenseados. Logo aí verifica-se uma discrepância entre a realidade e a estatística, com claro prejuízo para o território.
Pior: os problemas de novos casos de infeção por Covid-19 estão bem identificados e surgem, sobretudo, na faixa litoral e no sector agrícola. Um facto reconhecido pelo próprio Governo, uma vez que na primeira semana de abril procedeu à testagem de perto de 5.000 trabalhadores agrícolas neste território, com direito a visita ministerial e tudo.
Ainda assim, e apesar de todas estas evidências, na hora de aplicar as medidas, a opção foi "cortar a eito", ordenando tudo e todos a regressar à primeira fase do desconfinamento
Mesmo as atividades que tudo fizeram para cumprir com as exigências e em todas as freguesias do concelho, não obstante oito delas não registar qualquer caso de Covid-19 há semanas. Tudo isto no mesmo dia em que, por todo o país, se faziam longas filas para entrar em centros comerciais.
É certo que tudo tem de ter um princípio e uma medida. Mas não se pode comparar "alhos com bugalhos" ou aplicar regras que podem fazer todo o sentido nos grandes centros urbanos, mas que em territórios como o de Odemira são completamente desajustados. Como diz o povo, "o mal já está feito", mas o Governo ainda vai a tempo de dar a mão à palmatória.
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