15h26 - quinta, 01/07/2021
As cidades
do futuro
Carlos Pinto
Daniel Pinho é arquiteto, tem 38 anos e venceu a primeira edição do PRUMO Prémio de Reabilitação Urbana do Município de Odemira, graças a um belo projeto de recuperação de um imóvel para habitação e serviços no centro da vila. E em entrevista a esta edição do "SW", que pode ler na página 13, deixa esta simples (mas muito pertinente) observação: "A reabilitação urbana é essencial para não deixarmos que as pessoas abandonem estes pequenos centros urbanos para se criar 'periferias' sem necessidade ou que estes centros se transformem em 'vilas museu' sem vida. Para isso é essencial uma estratégia territorial ampla que permita que estes centros sejam mais confortáveis, deixando de desenhar as cidades em função do automóvel mas sim em função das pessoas".
Quem é curioso por estas matérias do ordenamento urbanístico e da geografia há muito que já ouviu falar do "efeito donut" que se verifica em grande parte das cidades (e também das vilas) espalhadas pelo país e pelo mundo.
Na prática, esse "efeito" não é mais que a criação de novos bairros e loteamentos nas áreas circundantes às localidades, "desumanizando" por completo os centros das mesmos. Porque se as pessoas se vão para esses novos "dormitórios", os centros urbanos ficam no mesmo local, sem "vida" depois dos horários de trabalho, remetidos ao silêncio e com imóveis fechados e a degradar-se.
Há décadas que é isto que acontece, com efeitos nefastos cada vez mais visíveis. Daí que, mais recentemente, se tenha começado a olhar para a reabilitação urbana como uma prioridade. E bem! Porque investir nesta área é investir na "revitalização" dos centros urbanos e, simultaneamente, na economia.
Aliás, uma das raras coisas boas que a pandemia parece ter trazido é a perceção de que as "cidades do futuro" terão de ser as "cidades 15 minutos", ou seja, localidades em que a nossa habitação não diste mais que 15 minutos a pé do posto de trabalho, dos supermercados, dos serviços e comércio, dos restaurantes ou dos espaços culturais e de lazer.
O desafio é, sabemos, enorme, mas este é um caminho que tem de ser cumprido, inclusive aproveitando as verbas da "bazuca europeia" que estão a chegar a Portugal. Em nome das nossas terras, mas sobretudo de uma sociedade mais "humanizada" e menos isolada em condomínios e apartamentos.
Outros artigos de Carlos Pinto