12h17 - quinta, 21/12/2023
100.º aniversário da viagem aérea Portugal - Macau. O regresso
António Martins Quaresma
A 9 de setembro de 1924, os aviadores chegaram a Lisboa a bordo do navio Arlanza, vindos de Londres. E a 14 de setembro, perante muito povo, realizou-se uma cerimónia no Terreiro do Paço, em que o Presidente da República, Manuel Teixeira Gomes, condecorou os tripulantes do Pátria com a Torre e Espada, a mais elevada condecoração portuguesa. Na altura, os homenageados fizeram, ainda, um passeio triunfal pelas ruas da baixa lisboeta, onde uma multidão os ovacionou.
O Porto foi a segunda cidade que recebeu a visita dos aviadores, mais uma vez em apoteose. Recordemos que Manuel Gouveia era natural do Porto e foi nesta cidade que Sarmento de Beires estudou e, mais tarde, passaria os últimos anos da sua vida.
Finalmente, o regresso a Vila Nova de Milfontes. À época, não havia qualquer transporte terrestre directamente de Lisboa para Vila Nova de Milfontes e como a comitiva era composta por umas 50 pessoas os três aviadores, a mulher de Sarmento de Beires, sete oficiais aviadores, o major Cifka Duarte, o comandante da Marinha Afonso Cerqueira, um oficial brasileiro, o bispo de Beja e seu secretário, vários jornalistas e 30 estudantes que os quiseram acompanhar a opção foi diversificada.
Assim, no dia 26 partiram do Terreiro do Paço para o Barreiro, onde tomaram o comboio da Linha Sul e Sueste (linha cujo troço final fora inaugurado em 1889), para a Estação de Odemira, hoje chamada Luzianes-Gare.
Após 10 horas de viagem, envoltos na escuridão da carruagem, chegaram, às seis horas da manhã do dia 27, à estação. A distância até à vila, em estrada de macadame com cerca de 22 km de extensão, foi percorrida em carros de mulas e em camioneta de caixa aberta, sob uma chuva miudinha.
Às oito horas, moídos da viagem, entravam na vila de Odemira, no meio de uma efusiva recepção. Seguiram, em cortejo, pelas ruas Serpa Pinto e Capitão Mouzinho de Albuquerque, com muita gente, janelas engalanadas e flores. Almoçaram na Sociedade Recreativa Odemirense, hoje Cineteatro Camacho Costa, que então possuía uma disposição interior diferente, permitindo a colocação das mesas. Findo o almoço, com os discursos e os brindes da praxe, embarcaram no Cais do Peguinho, em vários barcos, um dos quais um rebocador de propulsão mecânica, que se destinava a auxiliar a navegação no rio Mira.
Após três horas, ao longo dos meandros do Mira, chegaram a Vila Nova de Milfontes, às 17 horas. Tinham levado mais de 20 horas, entre Lisboa e Vila Nova de Milfontes.
Em Vila Nova de Milfontes, onde tinha acorrido uma multidão das terras das redondezas, o programa contou, entre outros eventos, com o descerramento das placas com os nomes dos aviadores Largo Brito Pais, Rua Sarmento de Beires e Rua Manuel Gouveia e com a colocação da primeira pedra de um monumento, no local onde, só em 1993, este foi construído.
No dia seguinte, foi realizada uma missa campal celebrada pelo bispo, no campo dos Coitos, tendo então pousado, no local, três aviões Breguet, vindos de Lisboa. Um ambiente festivo como Milfontes nunca tinha visto.
O regresso a Lisboa foi, mais uma vez de barco e de comboio, agora entre Milfontes e Sines e Setúbal, com a etapa final por caminho-de-ferro. Uma jornada algo atribulada, que nesta crónica não cabe descrever.
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