16h10 - quinta, 30/05/2024

Guerra: o grande negócio


Fernando Almeida
Não é de hoje que se faz a guerra para vantagem de alguns, poucos, mas para desgraça da maioria esmagadora dos outros. Na verdade, desde há muito que a conquista de territórios e seus povos gera bons negócios, porque dá acesso às riquezas dos vencidos. Isto acontece há milhares de anos, com os vencedores a regressar às suas capitais cobertos de glória, mas sobretudo de riqueza e poder.
Mais recentemente, a guerra também se faz apenas para vender armas, deixando de fora os que a incentivam e lucram com ela. Criando a guerra entre os outros, consegue-se às vezes até vender armas a ambos os contendores e criar, pelo menos em um deles, uma dívida que permite, a prazo, apropriar-se das suas melhores riquezas. Estas guerras "indiretas" são ótimas para quem as incentiva e mantém, porque constituem um negócio extraordinariamente rendível e não têm as desvantagens de um envolvimento direto com a impopular destruição e morte dos seus.
Há uma sequência relativamente bem conhecida para promover as guerras e fazer os povos aceitar de bom grado todos os problemas e desgraças que elas acarretam. Primeiro vai-se diabolizando "os outros", dizendo que aquele país ou os seus dirigentes são maus, perversos e até desumanos. Por vezes diz-se dos dirigentes que atacam, perseguem e maltratam o seu próprio povo, dando-se a entender que estes não têm o apoio popular. Portanto. se alguém atacar esse país será até um favor que fará ao seu povo, porque será uma forma de o libertar da "tirania" dos seus governantes. Saddam, Gaddafi, Noriega, Khamenei, Putin, Maduro e muitos outros foram descritos como déspotas execráveis e detestados pelos seus próprios povos, e sendo mortos ou depostos seria um benefício para as suas populações e para toda a humanidade. Com o tempo e boas campanhas de (des)informação, repetindo-o mil vezes, as pessoas acabam por acreditar. Está criado o "inimigo" e a partir deste momento o povo passa a aceitar que o país em causa seja hostilizado com sanções ou mesmo atacado militarmente, e que isso até será supostamente bom.
Também convém dar aos povos dos instigadores das guerras a ideia que o "inimigo" é pouco inteligente, incompetente, fraco e não tem equipamentos militares à altura (à vezes até se chega ao ridículo de afirmar que lutam com pás, tiram os chips das máquinas de lavar para equipar os mísseis, não têm munições, estão desmoralizados e fogem do combate como coelhos assustados…). Assim, os povos dos governos que querem a guerra são iludidos e manipulados, pensando que será fácil derrotar o tal "inimigo", que como antes se fez crer, é mau e cruel, e que afinal também é fraco e pouco inteligente.
Havendo uma confrontação em curso ou criando a ideia que ela será inevitável, necessária e justa, faz-se crer que o "inimigo" pode constituir um perigo para os povos daqueles que pretendem tirar partido da guerra. O Saddam tinha armas nucleares, o Noriega era traficante de droga, o Gaddafi era um perigo no Mediterrâneo, o Khamenei pode vir a ter armas nucleares para atacar o Ocidente, o Putin está a preparar-se para invadir a Europa, etc..Tudo mentiras, como mais tarde se acaba sempre por provar, mas que no momento assustam as pessoas. Sendo convencidas que a qualquer momento os "tenebrosos inimigos" poderão bombardear as suas cidades, as gentes ficam capazes de aceitar sacrifícios, perder salários, regalias, direitos e liberdades, porque serão supostamente sacrifícios feitos em nome de um bem maior, do futuro dos seus filhos e da sua pátria.
No caso que atualmente nos preocupa a todos – a guerra entre a Rússia e a Ucrânia – estou em crer que todas as ameaças de guerra generalizada com que hoje nos assustam nunca cheguem a concretizar-se e que sirvam apenas para que os negociantes de armas (ou mercadores da morte, como alguns lhes chamam) encham ainda mais os seus já atafulhados cofres. Agora são eles, os "odiosos russos", dirigidos por um "autocrata tenebroso detestado pelo seu próprio povo", que são usados para nos subtrair riqueza e direitos. Como nos querem assustados para poder lucrar com a venda de armas, dizem-nos que um dia a Rússia nos irá atacar injustificadamente, e dão-nos a entender que esse país gasta rios de dinheiro em armamento. Dizem também que a Europa se descuidou e que estamos praticamente desarmados. No entanto, o SIPRI (Instituto Internacional de Investigação para a Paz de Estocolmo, Suécia – https://www.sipri.org/about) apresenta dados sobre despesas militares do mundo que qualquer pessoa pode consultar e afinal a realidade não é bem essa…
Na verdade, a Rússia, em 2023, portanto já em plena guerra na Ucrânia, gastou menos de 110 mil milhões de dólares em defesa e os países da Europa ocidental, nesse mesmo ano, não estando em guerra, gastaram mais de 360 mil milhões de dólares em armamento. Se somarmos a isto os 60 mil milhões gastos pela Ucrânia e pensarmos que só os Estados Unidos gastaram no mesmo ano 916 mil milhões de dólares, vemos que existe uma desproporção abismal no que respeita às despesas em armamento entre a Rússia e o chamado "Ocidente" (com o "Ocidente" a gastar quase 13 vezes mais que a Rússia). Ainda assim, querem convencer-nos que é necessário gastar mais dinheiro em armas, o que na prática corresponde a comprar mais armamento ao principal produtor mundial, que são de muito longe os Estados Unidos da América.
Se pensarmos também que a população da Europa Ocidental, somada à dos Estados Unidos da América, soma quase 900 milhões de habitantes, e que a população da Rússia é inferior a 150 milhões, não será necessário ser muito sábio ou inteligente para perceber que a Rússia nunca tomará a iniciativa de atacar um país do Ocidente (leia-se OTAN), não só porque não teria qualquer vantagem nisso, como porque as hipóteses de vencer numa invasão seriam ridiculamente baixas.
Por isso, quando ouço falar da possibilidade de Portugal gastar mais de cinco mil milhões de euros em aviões de guerra americanos fico obviamente indignado! Sabemos também que se a Força Aérea Portuguesa recebesse um investimento dessa monta, por certo que tanto o Exército como a Marinha teriam que receber também fortes investimentos. Vão somando… É claro que estão a tentar enganar-nos de novo e só parece que os políticos europeus estão às ordens das empresas de armamento americanas. Será?



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