15h42 - quinta, 07/11/2024

Poética dos nomes de lugares


António Martins Quaresma
A origem e mesmo a "decifração" dos nomes de lugares sempre suscitou curiosidade entre os cidadãos comuns, que por vezes se deitam a explicá-los sem muita competência e, naturalmente, com resultados bem risíveis. Há pouco tempo, a propósito do Centenário da Viagem Aérea Portugal – Macau, o nome Coitos, lugar em Vila Nova de Milfontes de onde os aviadores partiram para a sua aventura, deu lugar a comentários brejeiros, porque houve quem fizesse conotação sexual com a palavra. Ignorância, claro, sobre a história do local e, mesmo, sobre as várias aceções da palavra.
Microtopónimos, ainda, como Malavado ou Espelgazes (Odemira) suscitam olhares divertidos e comentários jocosos, pois muita gente julga, pela sua forma, descobrir neles determinados significados. E, no entanto, estes nomes têm uma explicação mais séria e envolvem uma semântica que remete para substratos linguísticos antigos. Na verdade, a toponímia constitui uma disciplina que exige preparação linguística e histórica, enfim, formação e estudo.
Mesmo pessoas com educação académica são tentadas a conceber explicações bem desacertadas por não possuírem preparação específica e por falta de disciplina de pensamento. No século XIX, Abel da Silva Ribeiro, um médico que veio morar para Odemira e aqui casou, imaginou que Milfontes provinha do latim melis fons, "fonte de mel", nome que, segundo ele, os romanos teriam dado ao lugar, devido à abundância de mel, de excelente qualidade, aqui produzido. Sem aduzir qualquer prova. Um bom exemplo de "explicação" arbitrária e falha de todo o sentido histórico e semântico, mas com vestes de erudição. Melhor só a explanação (esta assumidamente humorística) sobre a origem do nome de Cascais: segundo o relato que a explica, estando o rei D. Dinis e sua mulher D. Isabel no sítio onde se encontra hoje a cidade, o rei teria esbofeteado a sua real esposa, na sequência de uma discussão, tendo esta exclamado "Senhor, por que me cascais?", de que resultou o nome Cascais para a então vila!
O certo, também, é que alguns topónimos têm causado incómodo aos moradores. É o caso da Amadora (Lisboa), cujo antigo nome era Porcalhota. A sonoridade e a conotação deste topónimo levaram os sensíveis habitantes a alterar o nome do lugar, aproveitando um outro microtopónimo das proximidades: Amadora. É também o caso de Montijo, na marquem esquerda do estuário do rio Tejo, que antes se chamou Aldeia Galega, mas viu este nome mudado para outro muito mais fino, uma vez que as pessoas não gostavam da antiga designação.
A interpretação simplista dos topónimos sempre originou chistes, mais ou menos divertidos. Por exemplo, dizia-se, diziam sobretudo os das povoações vizinhas, que Vila Nova de Milfontes era a "terra das três mentiras", pois não era "vila", não era "nova" e não tinha "mil fontes". No fundo, estava-se a brincar com coisas sérias, pois cada uma das expressões tem uma explicação que os autores do chiste nem imaginavam, por falta de conhecimento. Mas o assunto não era só tema de rivalidade entre povoações: no início do Século XIX, um viajante inglês que por aqui passou chalaceava que a vila das mil fontes só bebia água de poços. É o que dá ter um nome que contém, aparentemente, uma descrição, ainda por cima hiperbólica. Nesse sentido, muito menos complicado é, por exemplo, Saquenibaque (Santa Maria, Odemira), que ninguém, suponho, se atreve a descodificar, embora tentação não falte.
Como se vê, limitei-me, neste texto, a divagar de forma ligeira sobre alguns topónimos e elementos marginais, mas não ensaiei a explicação de qualquer um deles. Talvez isso aconteça numa próxima oportunidade. Aviso já, porém, que a toponímia é um terreno movediço e as soluções podem não ser unânimes, mesmo entre os que se dedicam à matéria.



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