18h33 - quinta, 18/05/2017
Tall Ships
António Martins Quaresma
O título desta crónica, em inglês, vem a propósito da rara estada, no porto de Sines, de vários navios de vela, entre 28 de Abril e 1 de Maio, passados. Integrado numa das regatas oceânicas que regularmente se realizam, o evento trouxe a Sines navios veleiros de vários países. Aqui estiveram a Sagres, a Amerigo Vespucci, o Creoula e a Wylde Swan, entre outros.
Como se nota, designei a Sagres no feminino e o Creoula no masculino. Isto porque a Sagres é uma "barca" e o Creoula, um "lugre", dois tipos diferentes de navios à vela, com aparelhos vélicos distintos: o primeiro, com "pano redondo" nos mastros designados por traquete e grande, e "latino", no mastro da ré, chamado mezena; o segundo arvora "pano latino" em todos os seus quatro mastros. No entanto, considerando que a Sagres é um "navio-escola" também podia designá-lo no masculino: o navio-escola Sagres.
Sem me deter mais nos pormenores técnicos, lembro que estes dois navios são da mesma idade (construção em 1937), tendo a Sagres sido construída na Alemanha e o Creoula, em Portugal, e fazem parte da marinha de guerra portuguesa, que os destinou ao treino de mar dos cadetes da Armada e, mesmo, de civis. No entanto, em Sines estiveram barcos que não pertencem às marinhas de guerra, como a escuna holandesa Wylde Swan, cujos proprietários a utilizam para proporcionar inesquecíveis viagens aos amantes do mar, mediante um pagamento, que varia em função da duração das viagens.
Quem se demorou a visitar os navios que estiveram em Sines admirou naturalmente a atmosfera especial destes grandes veleiros, a sua forma e os seus aparelhos destinados à utilização da energia do vento, a exigência de um contacto directo da tripulação com os elementos, enfim um modo de navegar muito diferente do que é habitual nos tempos de hoje. Foi também um encontro com a história, com a própria história de Portugal, que teve na exploração do mar o seu momento mais alto. Para alguns dos mais velhos foi-o ainda com a memória pessoal, lembrando o tempo em que grande parte das ligações se fazia através da navegação de cabotagem. E, para um ou outro, como o autor destas linhas, até representou uma oportunidade para voltar a pisar o convés do barco, em que, há alguns anos, fez uma, infelizmente pequena, viagem entre os portos de Sines e Lisboa.
Os países, cujas marinhas de guerra possuem estes barcos, sabem bem o seu poder de atracção sobre o público, onde quer que eles atraquem. Por isso, geralmente os consideram autênticas embaixadas, com valor de representação do país. É bem conhecida essa missão, no que respeita à Sagres, mas um dos países que a levam mais a sério é, sem dúvida, a Itália, e isso mais uma vez se viu em Sines.
A "nave scuola" Amerigo Vespucci, que ostenta o nome do explorador marítimo italiano do século XV, Américo Vespúcio, com os seus cerca de 100 metros de comprimento, destinado à prática de mar dos cadetes da "marina militare" de Itália, suscita sempre interesse, em qualquer porto. E a sua tripulação, simpática e profissional, estabelece rapidamente empatia com os visitantes, em especial com as crianças, tornando perdurável a lembrança da visita.
Neste memorável acontecimento, não podia deixar de haver algumas pequenas, enfim quase imperceptíveis, máculas, como a de terem baptizado um dos recintos de "baía dos piratas" e a venda de chapéus à capitão Sparrow nesse recinto. Sempre o (escuso-me a adjectivar para não ser desagradável) imaginário Disney! Valeu tudo o resto, que foi muito.
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