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17h33 - quinta, 18/10/2018
Ainda há lugar para os jardineiros
Hélder Guerreiro
Num tempo em que se discute o impacto ambiental e social da agricultura no Baixo Alentejo importa, talvez, olhar para este tema de forma integrada. Fernando Oliveira Batista, numa provocação imensa sobre o contraste entre a concentração demográfica na grande propriedade e a dispersão demográfica na pequena propriedade costumava afirmar que "quanto mais agrícola menos rural".
Esta realidade não foi alterada pelo surgimento "do elemento" disruptivo no Baixo Alentejo: a água (o Alqueva e os perímetros de rega)! Mudaram mais as culturas em presença do que o ordenamento do território. É bem verdade que as transformações na agricultura resultaram numa perda demográfica (rural e urbana) tanto por força da degradação do rendimento da agricultura tradicional como pelo incremento da mecanização na agricultura chamada de precisão (ou de outras coisas).
A biodiversidade foi outra das perdas resultante destas transformações, talvez mais nos territórios que foram florestados com monoculturas do que nas grandes estepes cerealíferas que deram lugar aos olivais intensivos. Já, nessa altura, ocorriam grandes discussões na Ovibeja e na "minha" ESAB sobre o esgotamento dos solos e a contaminação dos aquíferos pelo cultivo intensivo de cereais.
Hoje também temos painéis solares mas isso é outra conversa para um Baixo Alentejo diferente.
Não tenho dúvidas de que o mercado será sempre o primeiro responsável pelo uso das nossas "terras mais capazes" (significa fundamentalmente dimensão da propriedade, modelo de gestão e acesso à agua) e que será ele o principal responsável pela sequência de novas monoculturas que virão amanhã.
Mas se conseguirmos ver para além dessas "terras mais capazes" conseguimos ver um vasto território com uma diversidade incrível e consciente dos desafios que tem pela frente. É muito inspirador perceber como muitos empresários agrícolas estão a encontrar na diversidade oportunidades de se adaptarem às alterações climáticas e de terem maior segurança no rendimento económico das suas explorações.
É também nestes espaços que vamos encontrado quem vá construindo modelos sustentáveis de gestão da água, modelos mais adequados de produção florestal e onde encontramos esse imenso ecossistema que é o montado. São territórios que vão expressando tudo o que podem dar em termos de produtos diferenciados do território (julgo que lhes podemos chamar identidade).
É neste espaço que, mais do que empresários agrícolas e gestores de áreas de caça (que são...), emergem os jardineiros da paisagem. São homens e mulheres que merecem um olhar atento e merecem que, de uma vez por todas, sejamos capazes de desenhar modelos de retribuição por via dos serviços de ecossistema (ou de paisagem) que eles e elas fazem.
São serviços para todos e todas, mesmo para aqueles que, "protegidos" pela urbanidade, precisam do mesmo ar que respiramos!