Projeto "Sonotomia" chegou ao fim, a 5 de novembro em Odemira, após quatro anos de "trabalho intenso" que, segundo José António Falcão, permitiu construir "um arquivo sonoro representativo de três dimensões fundamentais da Europa".
Que balanço faz do projeto "Sonotomia", agora terminado, e qual a sua principal mais-valia?
Após quatro anos de intenso trabalho, o balanço é francamente positivo e traduziu-se, entre outras conquistas, por um reforço da posição de Portugal e, muito em particular, do Alentejo, do ponto de vista da arte, do património e da ciência, ao nível europeu.Constituiu-se um arquivo sonoro representativo de três dimensões fundamentais da Europa (marítimo-fluvial; rural; urbana), a par do surgimento de uma plataforma digital (Sonotomia Digital Hub) e de peças musicais contemporâneas, em que o Alentejo assume grande protagonismo.Iniciado em 2019, este projeto sofreu o impacto da pandemia de Covid-19, primeiro, e da guerra, depois. Isto obrigou a enfrentar dificuldades inesperadas, mas teve a vantagem de reforçar a colaboração entre as equipas dos diversos países. Missão cumprida!
Que tipo de trabalho foi realizado no âmbito do projeto?
Ao longo de cinco encontros transnacionais e três residências artísticas, no Alentejo, em Albarracín (Espanha) e Budapeste (Hungria), fizeram-se centenas de horas de gravação, com recurso à tecnologia de vanguarda do spatialsoundsystem, que estiveram na base de todo um conjunto de processos de investigação e cocriação artísticas. Para a nossa região, isto representou um passo importante, do ponto de vista do conhecimento e da internacionalização.
Que aproveitamento terá o "arquivo sonoro" (SoundLibrary) representativo de "três dimensões fundamentais da Europa", como referiu, no futuro?
É uma base de conhecimento que serve de inspiração para investigadores e criadores. Além disso, constitui uma experiência, cientificamente validada, que poderá ser objeto de réplicas noutros territórios, dentro e fora da Europa.
O projeto fica por aqui ou terá seguimento no futuro?
Finda esta etapa, vamos focar-nos na disseminação dos resultados, entre eles a peça musical "Água da Vida", encomenda da Pedra Angular Associação de Salvaguarda do Património do Alentejo e do festival "Terras sem Sombra" à compositora britânica Jamie Man, que reflete a sua experiência nos concelhos de Odemira, Santiago do Cacém, Sines, Grândola e Alcácer do Sal. Há uma rede de contactos e de trabalho em comum que vamos potenciar com os parceiros de Espanha, Hungria e Países Baixos. Queremos igualmente prosseguir o trabalho em torno das relações entre os recursos hídricos, a sustentabilidade e a arte. O concelho de Odemira é muito inspirador para isto, devido não só à sua extensa e imbricada costa, ao rio Mira e à barragem de Santa Clara, mas também aos seus valores patrimoniais e à sua vertente multicultural. Existe uma parceria já consolidada com o município e outras estruturas locais que tem vindo a dar frutos.