17h41 - quinta, 24/02/2022
A economia das artes
Carlos Pinto
A Câmara de Odemira vai colocar em marcha a elaboração do Plano Municipal de Cultura 2030, no âmbito do qual pretende colocar a cultura "no centro da inovação e da atratividade" do concelho.
Tal como lhe damos a conhecer na página 13 desta edição, trata-se de um trabalho a realizar ao longo deste ano, por forma a criar condições para ter "um concelho mais atrativo para a produção de conhecimento e de mais inovação, com âncora no seu património cultural e natural", numa parceria que juntará a autarquia a quatro instituições locais, nomeadamente a CACO Associação de Artesãos do Concelho de Odemira, a Associação para o Desenvolvimento de Amoreiras-Gare (ADA), a Associação Cultural Cultivamos Cultura e o Grupo de Estudos do Território de Odemira (GESTO).
Em entrevista ao "SW" [ver páginas 8 e 9], o autarca Hélder Guerreiro reitera esse desafio, assumindo a ambição de serem criadas condições "para que um ecossistema cultural e criativo seja mais uma das atividades económicas no território" do concelho.
Uma ambição que, não sendo inovadora, pode ser bastante diferenciadora e trazer valor acrescentado para o município.
Nas grandes cidades de todo o mundo, são muitos os bairros onde este tipo de aposta já foi implementada com notório sucesso. Lisboa, Copenhaga (Dinamarca), Paris (França), Munique (Alemanha), Nova Iorque (EUA) ou São Paulo (Brasil) são bons exemplos disso mesmo. Há casos semelhantes em localidades mais pequenas, como Weimar (Alemanha), Bristol (Inglaterra) ou Faro, onde a produção cultural se assume como uma das principais molas da economia local.
Projetos desta natureza, além do incremento nas dinâmicas culturais locais, aumentam a capacidade de atrair visitantes e fixar população. Novos habitantes, por norma mais jovens que os já residentes, com cultura e formação, o que inevitavelmente terá reflexos nos quotidianos locais.
Numa altura em que combater a desertificação do interior tem de ser, cada vez mais, uma prioridade, a aposta nas artes em localidades fora dos grandes centros urbanos está longe de ser uma excentricidade, bem pelo contrário. Afinal de contas, potenciar a criação de um ambiente cultural e criativo numa aldeia pode ser bem mais realista que tentar deslocalizar para lá fábricas e empresas "convencionais". E também é economia!
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