16h59 - quinta, 16/06/2022

Viva a comunicação social livre


Fernando Almeida
Tenho dito e repetido mil vezes que a informação que nos chega pelos grandes meios de comunicação social anda manipulada, é parcial, nos esconde muitas verdades e que replica até à exaustão muitas mentiras. E, como tenho dito e repetido mil vezes, tudo isto sem uma censura formal, e dando-nos a nós, pessoas comuns, a ideia que a informação que nos chega é isenta imparcial e verdadeira.
Quando necessário, calam a notícia para que os assuntos indesejáveis passem despercebidos. Ainda não há muito tempo corria a polémica da atribuição da rede 5G. Diziam os entendidos que a proposta chinesa da Huawei era a mais vantajosa do ponto de vista financeiro e tecnológico. Entretanto, um figurão da administração americana veio à Europa e "mandou" os governos desta sua "colónia" recusar a proposta da Huawei e aceitar a proposta da empresa americana Manevir. A comunicação social inesperadamente silenciou o assunto e pela calada o governo atribuiu a rede 5G à empresa americana. Calam-se quando querem que nós não saibamos de algumas coisas, como a atribuição da rede 5G, a guerra do Iémen e tantos outros temas desconfortáveis para os poderes do Ocidente, mas dão antena e ligam os megafones para as mentiras que lhes interessa propagar.
Um texto que li recentemente de Miguel Szymanski, jornalista que trabalhou em vários órgãos de comunicação social em Portugal e na Alemanha, dá conta da forma como a comunicação é controlada e, portanto, de como o nosso próprio pensamento é controlado. Diz ele:
"Fui dispensado de vários jornais por me recusar a fazer fretes. Na revista 'Sábado' o director, na altura, hoje já reformado do jornalismo, veio ter comigo e disse 'lamento mas és persona non grata junto da administração'. O empresário André Jordan tinha-se queixado de uma entrevista que lhe fiz e que nunca foi publicada. No grupo do 'Diário Económico' foi Ricardo Espírito Santo Salgado quem se queixou que eu o retratara 'como se fosse um gatuno' e ameaçou retirar publicidade do grupo. 'Não te posso dar mais trabalhos para escrever, lamento, ordens superiores', disse-me o director do jornal. Na revista 'GQ' (onde publicava crónicas) as queixas vieram numa carta de Jardim Gonçalves. No último artigo que escrevi para o 'Expresso' (o contrato como colaborador nunca foi rescindido) critiquei Sócrates quando ainda era primeiro-ministro. Recusei pedidos de artigos para a revista 'Up' da TAP (sobre a EDP) porque eram fretes. A minha mulher foi despedida da Cofina por se recusar a escrever 'publireportagens', textos publicitários mascarados de jornalismo. A directora da revista exigia-o, ela insistiu em recusar-se e o director de recursos humanos, genro do patrão da Cofina, disse-lhe 'o salário ao fim do mês também não vem com código deontológico'. Despediram-na. Por causa disso a minha mulher e eu tivemos de sair de Portugal e de ir trabalhar para a Alemanha. Fomos de carro, ambos desempregados, com meia dúzia de malas na bagageira e duas crianças no banco de trás. Não foi fácil. Ser jornalista não é fácil."
Percebe-se que os jornalistas são pessoas como todos nós, têm o empréstimo da casa para pagar e os filhos para criar e, como todos nós, precisam de viver. Por isso, como todos nós muitas vezes acabam por ceder às pressões das administrações das empresas em que trabalham e condicionar o que escrevem ou dizem em função daquilo que interessa a quem lhes paga.
Mas o controlo da informação que os grandes órgãos de comunicação social nos dão passa também pela escolha dos comentadores e cronistas. Comentador que se atreva a dizer o que não querem que seja dito, a analisar de forma diferente da que é preconizada pela "linha editorial" do órgão, terá os dias contados como colaborador. E assim nos metem pela casa dentro as imagens e as opiniões que querem que sejam difundidas, nos bombardeiam com as suas "verdades" quando ouvimos rádio em viagem, ou nos oferecem páginas de crónicas sempre com a mesma tendência nos jornais e revistas. E assim nós, cidadãos comuns, ficamos com uma imagem do mundo muitas vezes completamente deturpada. A alternativa da busca de informação fiável na Internet também é insegura, porque circulam mentiras para todos os gostos nas redes sociais e em páginas criadas a propósito para difundir informações falsas.
Resta pouco a quem quer verdadeiramente conhecer e compreender o mundo. Por vezes, uma viagem de um amigo que conta o que viu num país distante e que nos é por aqui denegrido por campanhas de décadas de desinformação e propaganda. A comunicação social estatal está também ela refém do poder, por vezes com mais alguma liberdade para opiniões plurais, mas sempre condicionada a agradar a quem manda. E sobra-nos a pouca comunicação social livre e independente, como acontece com as publicações locais e regionais que ainda não foram compradas pelos grandes grupos económicos que tudo dominam. Como no tempo da censura, resta-nos também a inteligência para descortinar o que faz e o que simplesmente não faz sentido, e que portanto não pode ser verdade. Não se esqueçam que sem informação livre e plural não temos verdadeira liberdade e teremos sempre uma democracia manca.
Que vivam os jornalistas que ainda lutam por uma informação isenta e verdadeira, e que vivam os jornais e as rádios que ainda não se venderam aos diversos poderes e lhes dão trabalho.



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