15h57 - quinta, 09/02/2023

Calendário


António Martins Quaresma
A palavra calendário evoca, na forma mais básica, uma folha onde estão marcados os dias do ano, agrupados em semanas e meses. Claro que o calendário é mais do que isto. Desde logo, constatamos que os países de influência cristã usam o calendário chamado gregoriano, promulgado pelo papa Gregório III, em 1582, para corrigir o anterior calendário juliano, introduzido pelo imperador romano Júlio César, em 46 a.C. Sendo que o calendário gregoriano pretende iniciar a contagem dos anos a partir do nascimento de Cristo, não se adequa a outras culturas, como as de religião muçulmana, em que a contagem se inicia na hégira, que assinala a ida de Maomé de Meca para Medina, no ano 622 d. C.
No dia-a-dia, o calendário tem um papel fundamental na organização da vida das pessoas. E, anualmente, há um dia especial para cada um de nós – e até para os jornais: o do aniversário, portanto o dia em que a vida de cada um teve o seu início.
Durante a Idade Média, através, nomeadamente, dos chamados "livros de horas", o calendário era ilustrado com belas iluminuras, em que os meses surgiam iluminados segundo as suas características. Por exemplo, os meses de julho e agosto, com os trabalhos das colheitas e da debulha do cereal, enquanto o mês de fevereiro, geralmente invernoso, podia conter uma pintura, a sugerir o frio e a permanência em casa, como a que se mostra nesta crónica, extraída de um manuscrito francês do século XIV.
A celebração de santos ou de acontecimentos em cada um dos dias do ano é uma antiga tradição religiosa da nossa sociedade. São João, São Miguel, São Sebastião, Natal, Páscoa, etc., fazem ainda parte de designações correntes e familiares aos nossos ouvidos. Vejamos o que se passa com o mês de fevereiro, em que nos encontramos, mês, aliás, especial, pois em lugar de 30 ou 31 dias como os outros, apresenta 28 dias, ou 29 nos chamados anos bissextos, tendo estes sido "inventados" para acertar o calendário com o movimento de translação da terra, uma vez que o nosso calendário é solar, mas há uma pequena discrepância de seis horas anuais.
Voltemos aos santos de fevereiro. Passou em 2 de fevereiro, o Dia das Candeias, ou de Nossa Senhora das Candeias. A invocação anual faz parte do calendário litúrgico e a sua festa contém um acentuado cunho popular. Existia a crença de que se o dia estivesse chuvoso, o tempo de inverno estava acabado; se estivesse soalheiro, então ainda havia muito que chover. Dizia-se: "se a Candeia se rir, está o inverno para vir; se chorar, está a passar".
Ainda dentro da tradição religiosa católica, no mês de fevereiro, celebram-se também, entre outros, o dia de São Brás (dia 3), santo associado à cura de doenças da garganta; Santa Águeda (dia 7), a que se recorre no caso de terramoto e para protecção contra as doenças dos seios, em lembrança dos episódios do seu martírio; Santa Apolónia (dia 9), que, se converteu em protectora de dentistas e a quem se recorria quando se sofria de dor de dentes, igualmente com base no relato do seu martírio; São Teotónio (dia 18), santo português, falecido em Coimbra em 1162, recordado na freguesia com o seu nome, no concelho de Odemira, porque se quis homenagear o arcebispo D. Teotónio de Bragança, quando este promoveu a criação da freguesia por finais do século XVI, designando-a pelo santo homónimo.
Numa tendência mais recente, passaram a surgir dias dedicados aos mais variados tópicos, agora de feição profana, boa parte deles para exaltar, ou condenar, a realidade que contemplam: Dia da Árvore, Dia da Mulher, etc. No presente mês de fevereiro, alguns dos dias são dedicados a diversos temas, parte deles bem inusitada, pelo menos à primeira vista. Assim, encontramos a 2, o Dia Mundial das Zonas Húmidas, que releva a importância dessas zonas e a necessidade da sua conservação e seu uso sustentável; a 4, o Dia Mundial da Luta contra o Cancro, assinalando a necessidade de desenvolvimento da ciência, a fim de limitar a mortalidade devida a essa doença, bem assim fomentar a prevenção e a informação; a 14, no dia de São Valentim, é o Dia dos Namorados, "tradição" recentemente importada, na linha da crescente influência anglo-americana nos nossos hábitos.
Sem ser exaustivo, mais duas referências, aparentemente muito estranhas: o Dia Internacional do Preservativo, a 13, e o Dia do Engolidor de Espadas, a 25. O primeiro surgiu no quadro da luta contra o SIDA e pretende prevenir a propagação das doenças sexualmente transmissíveis e gravidezes indesejáveis (recordemos o cartoon de António, em 1992, com a imagem de um papa retrógrado que criticava o seu uso); o segundo celebra uma difícil arte milenar, a de engolir espadas, cujos praticantes tem uma associação internacional.
Pronto! A divagação sobre o tema "calendário" e em particular sobre o mês de fevereiro, de modo ligeiro e breve, acaba aqui, que o espírito destas crónicas é a leveza e a brevidade.



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Data: 29/09/2023
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