Este site utiliza cookies para ajudar a disponibilizar os respectivos
serviços, para personalizar anúncios e analisar o tráfego.
As informações sobre a sua utilização deste site são partilhadas
com a Google. Ao utilizar este site, concorda com a utilização de cookies.
10h26 - quinta, 23/02/2023
O início da reparação!
Carlos Pinto
"O padre B era o perfeito da camarata e engraçou comigo. Ia à minha cama com a lanterna e apalpava-me, perguntava-me se eu já pecara. Vivi sempre sobressaltado. Tinha medo porque era pecador e ia para o inferno."
"No 5º ano, dormia ainda 'na camarata dos pequenitos', levantou-se sonâmbulo, agarrou na roupa suja e foi ter ao quarto do padre. Só se lembra de ter acordado na cama dele. É o próprio padre que lhe contará esta situação mais tarde, numa carta que lhe escreve em plena crise de consciência [...]."
"O padre acalmou-me dizendo para eu não ter medo que eu ia receber todas as roupas que eu quisesse, mas antes tenho que fazer uma coisa que não podes contar a ninguém porque é pecado. Não podes contar a ninguém e se contares aos teus pais ou a outra pessoa vais para o inferno. Não percebi nada, mas aceitei o 'nosso segredo"' O padre puxou-me e começou a tocar no meu corpo, deitou-me numa cama pequena que estava lá e introduziu o seu sexo no meu corpo."
Os relatos acima constam do relatório final da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa e dizem respeito a testemunhos de vítimas em vários pontos do país. A geografia acaba por ser aqui o menos importante grave e inaceitável é o relatado pelas vítimas.
O relatório, apresentado na passada semana pela equipa liderada por Pedro Strecht, é duro, intolerável, dramático e, em alguns momentos, escabroso. Relatos de de horror de quem passou por uma experiência traumática e irreparável e que acabam, em síntese, por confirmar aquelas que eram suspeitas antigas, tanto local como nacionalmente,
Mas mais que revelar situações inadmissíveis, este relatório solicitado pela própria Igreja, o que é de saudar deve ser o princípio da reparação. Como disse o padre jesuíta Hans Zollner, membro da Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores e um dos maiores especialistas no campo da proteção contra o abuso sexual, "isto não é o fim, mas o início de algo". Que assim seja
PS: Já esta semana, várias vozes ligadas à ala mais conservadora da Igreja começaram a mobilizar-se para tentar "minar" a credibilidade do documento em artigos na imprensa, publicações nas redes sociais e até nos púlpitos das igrejas. Simplesmente miserável!