16h00 - quinta, 21/11/2024

O declínio dos impérios


Fernando Almeida
Quem olhe para o passado dos povos de todos os continentes encontrará em alguns deles tempos de ascensão e de grandeza, seguidos de outros tempos de decadência e apagamento. Não se estranha que assim seja, já que as condições naturais variam no tempo e no espaço, produzindo diversos níveis de produtividade da própria natureza como consequência das variações dos climas (que sempre existiram), do esgotamento ou conservação dos solos e demais recursos essenciais à vida das nações. Por outro lado, como se sabe, a vida fácil dos povos dos impérios "amolece-os", deixando-os menos capazes de esforços, menos capazes de perseguir com tenacidade os seus próprios interesses e menos capazes de aceitar dificuldades.
Nos últimos séculos foram os povos da Europa Ocidental quem dominou o mundo. Essa expansão bem-sucedida iniciou-se precisamente connosco, povos ibéricos, mas passou para holandeses, franceses, ingleses e, mais recentemente, para os americanos. Escravizamos africanos, extinguimos povos inteiros entre os nativos americanos, dominamos civilizações milenares na Ásia, esmagamos a Oceânia… No século XIX chegamos ao ponto de fazer duas guerras na China, para obrigar o imperador chinês da época a permitir a venda de droga aos chineses, criando milhões de dependentes do ópio e uma degradação miserável e geral da sociedade e do povo chinês – foram as "guerras do ópio", tempo de máxima humilhação para aquele recanto do mundo, que os chineses sabiamente parecem não querer vingar, mas que também não querem esquecer…
A queda dos impérios acontece antes do mais como resultado da degradação das sociedades, dos costumes, da cultura e do estado de espírito dos seus povos. Às vezes, é verdade, essa moral enfraquecida conduz à perda de uma ou de várias guerras em que o velho império decadente se envolve num esforço último de mostrar poder, como o velho leão, magro e moribundo, que luta com o jovem e poderoso macho que acaba de chegar. Mas outras vezes impera o bom senso e o poder do mundo muda sem que seja necessário derramar muito sangue. Em qualquer dos casos, a mudança provém geralmente mais do declínio interno das nações que dos seus inimigos externos.
Infelizmente, esse declínio afeta já os países do chamado "Ocidente", mas mais infelizmente ainda é já bem patente entre nós, portugueses. No entanto, como as mudanças da sociedade que evidenciam o declínio são progressivas e por vezes lentas, é fácil que nos habituemos a elas sem reparar e sem as entender como evidências reais e objetivas de decadência. Mas se começarmos a olhar o que nos rodeia com atenção…
Uma dessas evidências que está diante dos nossos olhos, mas que muitos não percebem ou não querem perceber é o generalizado consumo de drogas. Não falo das drogas ditas "leves", que, afinal, sendo evidentemente nefastas à saúde, são comparáveis ao consumo de álcool, logo "menos mau". Quando falo de consumo de droga que alarma (ou devia alarmar) as sociedades e seus governos, falo das drogas que criam forte dependência, degradação e morte. Em Portugal, entre umas e outras, devem ser muito poucos os jovens que nunca as usaram e muitos são os adultos que as usam regularmente, e muitos os que dificilmente passam sem elas. Mas nós somos um "país atrasado" e parece muito provável que dentro de alguns anos se venha a passar em Portugal o que já acontece em outras geografias: nos Estados Unidos da América, por exemplo, o consumo de drogas variadas (o fentanil mais que outras) tornou-se uma verdadeira epidemia que mata todos os anos mais de cem mil pessoas, o que é mais do dobro do número de civis mortos nas atuais guerras na Ucrânia e na Palestina e áreas envolventes.
Ao mesmo tempo que a droga corrói a sociedade e a juventude, uma crise de valores afeta alguns destes países que, como costumamos dizer, vão à nossa frente (ou atrás dos quais nós infelizmente caminhamos): as forças armadas dos Estados Unidos não conseguem recrutar os soldados que precisam e isto deve-se ao que os militares americanos chamam "uma crise de masculinidade"… cada um tire daí as suas conclusões.
A Europa Ocidental tem perto de um milhão de pessoas a viver nas ruas, dormindo onde podem, às vezes em caixas de cartão, embrulhados em jornais… Em Portugal, apesar do esforço e da vontade do Presidente da República de acabar com este triste fenómeno, o número de pessoas sem-abrigo aumenta constantemente. Mais uma vez, o fenómeno nos EUA e em outros países ricos é muito mais grave, com gente a dormir precariamente embrulhada em cartões, mas também com milhares de tendas que ocupam as ruas de algumas das grandes cidades como Los Angeles e ainda mais os que vivem (também precariamente) em autocaravanas e roulottes. No total, serão muitos milhões de miseráveis no país mais rico do mundo.
Por cá as infraestruturas estão degradadas, a rede de metro pejada de lixo e ratazanas, as paredes de escolas, equipamentos sociais, monumentos e construções privadas são riscadas a spray por jovens (ou talvez não tão jovens assim), num espetáculo esteticamente degradante mas que, sobretudo, evidencia o desrespeito total pelo bem comum e pelos outros.
Os alunos deixam de respeitar o espaço da escola, os seus professores e demais agentes do processo educativo, com atitudes totalmente opostas à aprendizagem e à busca de conhecimento e formação. Acham que saber é dispensável e há mesmo uma vaga de jovens que depois de muitos anos de escola não conseguem sequer ler as perguntas de um teste e, por isso, exigem que as provas lhes sejam lidas… Qual será o seu futuro, pode perguntar-se.
Os elementos que evidenciam esta degradação da sociedade estão visíveis a cada esquina, mas parece que ninguém os vê, embalados que vamos andando pelas novelas, concertos e futebóis. Pior, ninguém vê que em outras geografias a ordem e o progresso são a norma, com os povos e seus países em acelerado desenvolvimento, e que a nossa posição tradicionalmente dominante no mundo vai desabar estrondosamente se ninguém corrigir esta rota que levamos.
Para os males da nossa sociedade não vejo responsáveis a acertar no diagnóstico e ainda menos a propor tratamento.



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