18h54 - quinta, 29/05/2025
Que força terá a democracia?
Carlos Pinto
Quer se queira, quer não, o sistema político em Portugal sofreu uma enorme "abanão" na noite de 18 de maio, com o crescimento e afirmação do Chega como segunda força partidária mais representada na Assembleia da República e a queda vertiginosa do PS, partido que mais tempo liderou o país na última década e meia.
Ao longo dos últimos dias, têm sido muitos os que tentam justificar este resultado. Desde ter sido um voto de protesto em função dos últimos meses de instabilidade política a um grito de revolta perante os sucessivos "casos e casinhos" que vão, sistematicamente, envolvendo a classe política em Portugal, sobretudo na "esfera" de socialistas e sociais-democratas.
Talvez esta votação tenha sido, eventualmente, uma manifestação de indignação causada pelo excesso de imigração ou os "benefícios" de determinadas etnias ou, simplesmente, uma afirmação da vontade de muitos (mais do que aqueles que julgávamos) em regressar aos bafientos tempos passados.
Certo é que os resultados de 18 de maio revelam aquilo em que nos estamos a transformar enquanto país, sociedade e comunidade: cada vez mais individualistas e menos solidários, onde prevalece o ressentimento, a maledicência, a inveja e o cinismo. Uma sociedade em que os outros são sempre os responsáveis pelos nossos insucessos e incapacidades. Uma sociedade sem memória da história contemporânea e sem empatia pelo próximo, desenraizada, zangada, cínica e hipócrita, "viciada" em redes sociais e que acredita que tudo se resolve facilmente e "num passe de mágica", como se estivéssemos sempre à mesa do café, entre uma mini e um pires de tremoços.
A vitória do Chega a 18 de maio (na sequência da de muitos outros partidos e atores políticos da mesma linha pelo mundo fora) é a nossa própria derrota, a dos democratas. E simultaneamente um alerta para os perigos que ameaçam a nossa democracia, que por ser o melhor dos piores sistemas políticos permite que a destruam utilizando as suas próprias regras.
Por isso, o grande desafio que temos pela frente é reforçar a democracia e salvaguardá-la de todas as ameaças que possam surgir. Uma "missão" que cabe, em primeira linha, a quem elegemos para o Parlamento e a quem vai liderar o Governo. Mas todos nós, no dia a dia, em cada uma das nossas ações, também estamos obrigados a este "combate"
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