16h00 - quinta, 21/03/2024
100º aniversário da viagem aérea Portugal-Macau. Uma celebração
António Martins Quaresma
Um século depois de realizada a viagem aérea entre Portugal e Macau, que temos vindo a relatar nas últimas crónicas, o feito e os seus autores têm sido lembrados localmente em momentos especiais. De realçar, a já citada comemoração do 60º aniversário da viagem, em 1984, em Milfontes, que o próprio autor destas linhas impulsionou, com o auxílio estimável de algumas pessoas, entre as quais o Eng. Fernando Brito Pais, filho do aviador Brito Pais, e D. Maria do Céu Brito Pais, irmã do aviador e madrinha do avião "Pátria", e o apoio do Museu do Ar e da Força Aérea, sem esquecer a ajuda de algumas pessoas que pertenciam à extinta associação Amigos de Milfontes (António Ladeira, Fernando Almada, António Feliciano Inácio, Armando Miranda, José Vagos, Augusto Oliveira ...). De destacar ainda algumas comemorações posteriores, no dia 7 de abril, como a que poucos anos depois teve lugar ainda em Milfontes e que contou com a colaboração da Força Aérea, obtida através dos bons ofícios do capitão José Mestre Barreiros, natural de São Teotónio. Além disso, algumas escolas realizaram atividades sobre o tema e grupos teatrais, como o saudoso Teatro ao Largo e os de Rui Pisco, levaram à cena espetáculos de grande impacto em teatro de rua. Entretanto, em Colos, a escola C+S desta vila recebeu o nome de Brito Pais. E, naturalmente, a edificação do monumento, em 1993. Pode dizer-se, assim, que não há episódio da história local que tenha tido uma tão forte presença na construção da memória coletiva como o da viagem aérea Portugal Macau. Nem mesmo os episódios dramáticos da época do corso marítimo, com tão grande potencial cénico e turístico...
Uma coisa deve afirmar-se: foi com base na historiografia e no interesse pela história verificado localmente, a partir da década de 1980, que este e outros acontecimentos históricos puderam, com maior ou menor êxito, ser assumidos por alguns estratos da população. Isto não obstante a dificuldade em divulgar a mensagem num meio social algo volátil e na dificuldade, cada vez mais nítida, de imposição da palavra escrita.
Neste ano de 2024, mais uma vez se iniciou, no concelho de Odemira, um movimento para, juntando as pessoas e as instituições adequadas, organizar e levar a cabo um programa de comemorações do centésimo aniversário da viagem. Foi criada uma comissão de que fazem parte vários investigadores e familiares dos aviadores, que, sob os auspícios do Município e contando com a participação da Universidade do Porto, da Força Aérea Portuguesa e do Museu do Ar, se encontram a elaborar o programa. Entre os nomes que a integram constam Isabel Morujão, professora da Universidade do Porto, especialista no tema e editora da quarta edição, bilingue, da obra de Sarmento de Beires De Portugal a Macau; Henrique Henriques-Mateus, historiador aeronáutico e investigador do CITCEM (Universidade do Porto), autor, nomeadamente, do livro Na Esteira do Pátria 75 anos depois; Jorge Lima Basto, membro da Direcção do Grupo de Amigos do Museu do Ar, trabalhou como engenheiro na OGMA Indústria Aeronáutica de Portugal, autor, nomeadamente, do livro, bilingue, Os 100 anos da aviação; Mário Correia, foi conservador do Museu do Ar, aviador e autor e coautor de vários livros sobre aviação; e eu próprio, enquanto historiador do território, relacionado, localmente, com o evento desde as comemorações de 1984. Pertencem ainda Paulo Lage, engenheiro da Airbus e parente de Manuel Gouveia, e Maria Leonor Brito Pais, neta do aviador Brito Pais. O competente programa está em fase de conclusão e será oportunamente apresentado ao público.
Com este texto termino a série de crónicas que dediquei à viagem aérea Portugal Macau, destinadas a divulgar o assunto no ano do seu centenário, sendo certo que o tema pode ser aprofundado.
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