15h12 - quinta, 03/04/2025
O que há de comum entre nazismo e sionismo?
Fernando Fonseca
Para melhor compreender as questões do nosso tempo já dizia, em adaptação livre, Alexandre Herculano, "Estudar a História para prevenir o futuro".
Face à informação a quente que circula na actualidade acerca da vergonhosa guerra que o Estado de Israel protagoniza, e não sendo veiculada informação acerca das verdadeiras origens do conflito que opõe o Estado judaico ao Povo palestiniano, decidi consultar diversas fontes históricas disponíveis nas minhas prateleiras e outras, acerca do povo judeu, transmitidas ao longo de quase 5.000 anos, extraída sobretudo do Antigo Testamento com respeito às principais figuras bíblicas; profetas e outros.
Referi-los, e por já nada se poder acrescentar em termos históricos, limito-me a anotar referências que me parecem oportunas para justificar a minha posição acerca da Guerra Israelo-Palestina, em modo compacto, onde ressalta a utilidade da fé num deus único numa visão sectorial e a origem do "Povo Eleito" que norteia os acontecimentos a que assistimos, com irmãos a chacinar "irmãos em Deus" porque valores terrenos assim o determinam. Ressalvo que as diferenças culturais, por si só, não impedem um saudável convívio entre os povos. Esta é de facto uma guerra religiosa, ou mais claramente onde o pretexto religioso serve, como noutras realidades, para disfarçar interesses materiais associados ao poder regional, como etapa a vencer, ao serviço do Império Dominante.
Serve este apontamento para referir que não basta conhecer a versão bíblica da história do Povo Judeu, sendo forçoso acrescentar a isso os fundamentos ideológicos do Movimento Sionista.
O movimento Sionista foi uma solução imaginada para pôr fim à perseguição de mais de mil anos pelos estados de toda a Europa, cujos soberanos "Pela Graça de Deus" e antissemitas, que, com base numa ideologia cristã proibiam os judeus de serem proprietários de terras. Não lhes sendo facultada a dimensão telúrica do conceito de pátria que os impedia de criar raízes e de se integrarem entre os povos onde viveram durante séculos, uma excepção à dinâmica de miscigenação de todos os êxodos ao longo da história da humanidade, essa marginalização determinou que se reforçaram os laços religiosos e culturais sob a ideia de Tradição, tão valorizada. Até que em 1897 o jornalista Theodor Herzl, austríaco e judeu, criou o movimento Sionista, por alusão ao bíblico Monte Sião, antiga designação do lugar onde foi edificada Jerusalém. No entanto, as ditas proibições não impediram que durante tempo tão extenso tivessem havido misturas, de modo que grande número de actuais israelitas já só têm a religião e alguma tradição em comum com os emigrantes de século I d.c.
Uma segunda leitura do documento que cria este movimento destinado a reclamar um território para se estabelecerem, revela uma discretamente semelhança entre o Sionismo e o Nazismo. (coincidências do tempo histórico?)
Na espuma das opiniões públicas ouve-se com frequência: Como é que aquela gente que sofreu o holocausto, é capaz de tamanha destruição e eliminação sistemática e impiedosa de um povo inteiro, com uma crueldade nunca vista no mundo civilizado? Não confundamos os crentes em Deus com as organizações religiosas a que se acolhem. Tenho amigos descendentes de judeus polacos fugidos do nazismo que se assumem portugueses em primeiro lugar, para quem o judaísmo não é mais do que a sua religião, como outros seguem doutrinas diferentes ou são ateus. Conservam a noção bíblica da Terra Prometida como uma tradição longínqua, mas não se reveem na política expansionista de Israel.
É oportuno referir que na Palestina, até ao início da colonização pelo movimento sionista, viveram sob o domínio do Império Otomano durante oito séculos em perfeita harmonia judeus, cristão ortodoxos, católicos e islamitas. Até que
o soberbo e prepotente Império Britânico no término da Primeira Guerra Mundial, através de uma declaração do ministro inglês Balfour, deu em 1916 aquilo que não era seu. Deu a terra, armou os colonos, fez que a Sociedade das Nações onde mandava e mais tarde a ONU reconhecessem aquela "dádiva" como Estado de Israel.
Fê-lo como estratégia para evitar que os judeus fugidos de toda a Europa se instalassem em Inglaterra, e fê-lo, porque embora saindo militarmente vitoriosa da Primeira Guerra Mundial, ficou em estado de falência e sem dinheiro para manter os territórios árabes conquistados. Criando na Palestina um Estado pretensamente independente, como o fez com a Jordânia e o Iraque onde colocou monarcas seus fantoches, continuaria soberana à distância. Até ver.
Não contou com a aspiração de soberania total por parte dos "mal- agradecidos" colonos judeus que se rebelaram, destacando-se simbolicamente o atentado contra a Administração inglesa no Hotel King David em Jerusalém em Julho de 1946 organizado pelo partido Irgun de Menachen Begin que viria a ser primeiro-ministro; como também não adivinhava a segunda guerra Mundial nem a emergência do Império Americano que vê agora o protegido Israel fazer uma guerra por procuração, com os olhos postos no mundo árabe e o Irão como alvo de estimação, para repor a influência perdida com a queda da Pérsia e do seu imperador Reza Pahlavi em 1979.
Existe um manancial de informação oculta ou intencionalmente não divulgada, acerca de acontecimentos impossíveis de relatar neste espaço, destacando a perseguição sistemática a partir de 1920 por colonos judeus ou mercenários a soldo, para aterrorizarem palestinianos nativos, pressionando-os a abandonarem suas casas e propriedades; prática que perdura com a instalação ilegal de "kibutzs" em território palestino.
Antes de mais, este conflito insere-se na modalidade de Guerras de Pacificação, onde é impossível não reconhecer o paralelismo dos objectivo e das táticas da colonização da Austrália com destaque para a Tasmânia, e das Américas (do Sul pelos hispânicos e do Norte pelos europeus com a seita Protestante de Lutero. A América, que surgia como uma réplica da "Terra Prometida" por alegadamente ser terra sem dono (diga-se: sem estados organizados segundo os moldes euroasiáticos), foi também uma oportunidade para judeus que se furtavam às perseguições da Santa Inquisição. Neste paralelismo, é impossível não reconhecer um "Faroeste na Palestina", segundo o qual a "Cavalaria" persegue as vítimas despojadas de identidade e de bens, para defender os colonos ocupantes e agressores.
Só quem escolhe ser cego não vê que tanto o Hammas como o Hezbohlah são o resultado da violentíssima colonização, com muitos milhares de autóctones deportados para o Líbano e para a Jordânia, a que Israel acrescentou a "Lei de Propriedade Abandonada" conduzida desde mais de 20 anos antes do reconhecimento do Estado de Israel, recusando a vertente simétrica do seu reconhecimento: o Estado Palestino.
Do lado árabe, também houve líderes que se opuseram à criação de dois estados, porque consideravam estar a assistir a uma pura ocupação colonialista protagonizada por estrangeiros, à sombra do Império Britânico que não cumpriu a prometida independência total dos vários estados árabes pela sua ajuda na guerra contra o Império Otomano. Se contabilizarmos o horror da incursão terrorista do Hammas em outubro de 2024, não se compara aos crimes cometidos por judeus ao longo de mais de 100 anos. O primeiro, decorreu compactado numas poucas horas; o impacto do segundo, esfumou-se no tempo, numa perversa ocultação e na capacidade de esquecimento.
De regresso ao assunto e para especificar.
O Nazismo foi uma tentativa de criar um socialismo nacionalista só para Arianos, erradicando como todo o mundo sabe, os impuros tais como judeus e ciganos, homossexuais, negros, e deficientes físicos e mentais, à boa maneira de Esparta.
O Sionismo é uma ideologia com duas correntes: o partido Mapai, laico e socialista de Ben Gurion, e o partido Irgun, religioso e racista, de Menachen Begin, em que se filia Nethaniahu. Ambos declaravam tolerância com figuras do estrato social superior, ricos e cultos segundo os padrões europeus, e preconizavam no seu projeto de colonização a erradicação do povo palestino, recusando trabalho a pastores, agricultores e pobres em geral, com vista a uma emigração definitiva a bem ou a mal, como tantas vezes aconteceu e continua a acontecer, ao abrigo da lei de património abandonado, de modo a ficarem com espaço livre onde instalar as suas quintas colectivas.
Por muito que haja quem discorde, torna-se clara a semelhança entre as práticas Nazis e as Sionistas, o que explica o genocídio que está a decorrer, sem que resto do mundo tenha coragem para lhe pôr cobro.
Tenhamos presente que os atuais palestinianos são os descendentes diretos dos judeus pobres que não puderam abandonar a sua terra apesar da pressão do Imperio Romano. Islamizaram-ser por uma questão de sobrevivência sob o domínio de Saladino e seus continuadores, como acontece a todos os povos colonizados, que adoptam a língua, a religião e os hábitos dos colonizadores.
Os líderes europeus têm chorado lágrimas de crocodilo pelos inocentes chacinados em Gaza, sem serem capazes de decidir, quais lacaios à espera de autorização do todo poderoso dono da NATO. Honra seja dada à coragem política da Espanha, da Irlanda e da Noruega. E em Portugal, enalteçamos a frontalidade com que Miguel de Sousa Tavares divulga factos que outros comentadores não se atrevem a falar.
Os judeus da diáspora do ano 40 D.C. foram os que tinham meios para viajar, tal como na Ucrânia, quem tinha carro ou dinheiro fugiu à invasão de Putin. Os pobres permanecem nos campos e aldeias assoladas pelos combates, ao capricho do xadrez com que Putin e Trump jogam os seus interesses como aves de rapina, a fabricar uma "paz" que lhes permita cada um por seu lado, explorar as riquezas da Ucrânia.
Ao americano, homem de negócios, não interessa a paz. Vendeu armas e não perdeu soldados; só lhe interessa o espólio a haver.
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