Será o curso de um rio um "espelho" do que é curso da vida? Poderá a água que desagua no mar ser uma "metáfora" da nossa existência? Estas são algumas das questões levantadas no espetáculo "Reflexo", que a associação Terra Batida apresenta nesta sexta-feira e sábado, dias 5 e 6, sempre às 21h00, no espaço do Clube Fluvial Odemirense (CFO), em Odemira.
Criada a partir de uma ideia original de Catarina Barata, a performance "Reflexo" tem o apoio da Câmara de Odemira, da Direção Geral das Artes, da rádio Antena 2 e do CFO, sendo "um espetáculo sobre o curso da vida, em paralelo com o curso de um rio".
"A vida, bela e complicada e ao mesmo tempo tão simples é a matéria que inspira 'Reflexo'. Todos os dias nos surpreendemos com as pequenas maravilhas do mundo e é isso que queremos partilhar com o público. Se prestarmos atenção a tudo, até às coisas aparentemente banais, percebemos que temos sempre algo a aprender, mesmo nos lugares onde já esperávamos saber tudo", frisa ao "SW" Catarina Barata.
Segundo a autora, "a banalização e a indiferença são dos maiores perigos para as sociedades e para o bem-estar de cada um(a)".
Além do mais, acrescenta, "no ano em que se comemora os 50 anos da revolução que trouxe a democracia ao nosso país, é importante também refletir sobre a fragilidade da ideia de liberdade, que tomamos por garantida e que, a pouco e pouco, parece cada vez mais ameaçada, à medida que os regimes autoritários ganham espaço na Europa e no mundo, inclusive em Portugal".
É nesse âmbito que "Reflexo" toma como "ponto de partida" o facto de a vida poder ser comparada a um rio, "que ora é fio ténue na nascente ora é caudal torrencial na foz, água límpida ou lamacenta, subterrânea ou evaporada, rápida ou lenta".
"Às vezes, um rio transforma-se noutra coisa: barragem, lago, cascata, praia. Às vezes desaparece, até, da superfície, só para mais tarde reaparecer, com nova força. 'Reflexo' é sobre a água que passa por tudo isto para no final desaguar no mar e ser outra coisa. É sobre a transformação", diz.
Para Catarina Barata, "todos somos muitas coisas ao mesmo tempo e mudamos ao longo da vida". Por isso, "na peça estabelecemos um paralelo entre alguns momentos chave da existência e a passagem por diferentes salas do CFO, em cenas poéticas impregnadas de beleza e humor", onde o público é convidado "a viver uma experiência estimulante para os sentidos e a fazer parte dela", desvenda.
A autora acrescenta que "a arte é um instrumento de espanto e questionamento", permitindo "olhar para o mundo e imaginar, ao experimentar ideias, conceitos, sensações".
"A fruição de um espetáculo é um momento de comunidade, em que um grupo diverso de pessoas partilha um momento e cria uma afinidade momentânea que pode ou não perdurar no tempo. A arte é criadora de memórias. Tem sempre algo de celebração", acrescenta.
Concebido a partir de uma ideia de Catarina Barata, "Reflexo" tem encenação de Yael Karavan, que também interpreta a performance juntamente com as cocriadores Matilde Real e Andreia Coelho, e com Nuno Salvado, responsável pela direção musical. A estes junta-se ainda Filippo Baraldi como músico convidado.
De acordo com Catarina Barata, o espetáculo foi pensado "especificamente" para a sede do CFO, "que é um lugar muito especial de um coletivo maravilhoso", mas poderá "ser adaptado a outros locais, inclusive a espaços mais convencionais, como salas de espetáculo".