Um projeto de "investigação artística" em torno do património imaterial relacionado com a figura e ofício da curandeira está a ser desenvolvido no concelho de Odemira, para "resgatar o saber natural" associado a estas práticas tradicionais.
A iniciativa "Curandeiras entre nós" arrancou no final de março e "surgiu de uma vontade de criar metodologias para promover uma maior conexão com a natureza e de um interesse pessoal em aprofundar conhecimento acerca das curandeiras e das plantas medicinais existentes na região do concelho de Odemira", explica a sua dinamizadora, Mariana Dias Coutinho, ao "SW".
"Este é um projeto que visa em primeiro lugar uma aproximação ao lugar que habitamos, servindo uma cultura de cuidar. Em segundo lugar pretende, a partir de um interesse comum, agregar pessoas numa metodologia de partilha, colaboração e aprendizagem coletiva", reforça.
De acordo com a responsável pelo projeto, "além de realizar um contacto com algumas destas figuras ou suas descendentes", o projeto "pretende agregar e partilhar conhecimento acerca das plantas medicinais existentes em três diferentes paisagens do concelho de Odemira", nomeadamente Troviscais, Almograve e Santa Clara-a-Velha.
A par disso, e "numa ótica feminista, [o projeto] pretende resgatar esse saber natural" destas mulheres, pois "noutros tempos, seria a curandeira a guardiã dessa sabedoria ancestral, estando no centro de uma série de relações sociais dentro da organização das aldeias".
Por isso, diz, o projeto possibilita "um olhar contemporâneo sobre estas práticas e saberes", além de "recuperar e trazer para os nossos dias essas competências e modos de cuidar de si e dos outros, assim como, através da produção de objetos artísticos, manifestar o imaginário coletivo popular".
Financiado pela Câmara de Odemira, através do programa "Odemira Criativa", o projeto "Curandeiras entre nós" arrancou no final de março, tendo sido realizadas três sessões, que incluíram sempre uma caminhada e um almoço.
"Almoçamos juntos num conceito de refeição partilhada e onde adicionamos algumas das plantas que recolhemos durante a caminhada", revela Mariana Dias Coutinho, acrescentando que, de tarde, tinha lugar uma oficina de criação coletiva.
O objetivo foi , "com diferentes materialidades, que vão desde as pastas cerâmicas às fibras vegetais, manifestar em objeto as afetações do dia sobre o tema".
Depois destas sessões, está prevista, em data a definir, uma sessão com quatro curtas-metragens da realizadora Marwa Arsanios, fruto de uma parceria com o Cinema Fulgor.
"O objetivo é oferecer uma outra camada ou leitura destas práticas, pessoas e sua influência, promovendo conversas e estabelecendo pontes entre os contextos retratados nos filmes e o território de Odemira", explica Mariana Dias Coutinho.
A autora pretende ainda, "durante os próximos meses", dedicar-se "à investigação e produção de novas obras que serão mostradas em formato de exposição em setembro, no Espaço CRIAR em Odemira".