16h56 - quinta, 04/05/2023

Forte do Pessegueiro


António Martins Quaresma
O Litoral Alentejano possui alguns interessantes exemplares de arquitetura militar antiga. Em Sines, existem os muros e a torre de menagem do castelo dos séculos XV-XVI e a plataforma de Nossa Senhora das Salas, ou do Revelim, do século XVII. Em Porto Covo encontra-se o forte do Pessegueiro, também do século XVII, e em Vila Nova de Milfontes o castelo, ou forte de Milfontes, edificado na transição do século XVI para o XVII.
Como é sabido, o castelo de Sines, administrado pela Câmara Municipal de Sines, tem utilização museológica, que ocupa a torre e a "Casa do Governador", entre outras dependências, sendo o espaço aberto intramuros usado para atividades culturais e recreativas. A bateria do Revelim, passível de ser visitado, tem utilização episódica. Quanto ao castelo de Milfontes é, desde 1903, propriedade privada; o seu usufruto público está vedado e assim decerto continuará.
Na costa do Pessegueiro existem duas construções castrenses, uma na ilha e outra no continente, mas o fortim da ilha encontra-se arruinado e não possui condições de utilização; ele merece, contudo, uma intervenção urgente para deter a ruína, obra que se apresenta ser mínima e de pouco custo. Assim haja o propósito de a realizar.
Já o forte da costa, depois das obras de restauro de 2008, foi fechado e, à parte algumas aberturas pontuais para realização de uns poucos eventos, tem continuado encerrado – apesar dos inúmeros interessados em visitá-lo, do valor arquitetónico do edifício e das suas potencialidades para receber um programa cultural e turístico.
Recordemos que a primeira fortificação do lugar remonta à época filipina, quando o poder régio pretendeu materializar o projeto de um porto oceânico, no canal entre a ilha e a costa. Nesse projeto, de que há imponentes vestígios na ilha, trabalharam sucessivamente dois engenheiros italianos, um deles, Alexandre Massai, que haveria de ficar em Sines até ao fim da vida. Contudo, o forte do Pessegueiro, ou de Nossa Senhora do Queimado, só foi edificado, em 1685, sob a direção de João Rodrigues Mouro, engenheiro militar da Praça de Setúbal, a cuja alçada pertencia a fortificação do Litoral Alentejano até à foz rio Mira, após um trabalho de levantamento da situação dos fortes de Milfontes e do Pessegueiro, pelo engenheiro D. Diogo Pardo de Osório.
A ereção do forte do Pessegueiro, edifício de básica planta quadrangular e dois baluartes, com arquitetura própria do período da pirobalística, isto é, da utilização de armas de fogo, teve como justificação o assédio dos corsários norte-africanos, que habitualmente assaltavam os moradores e a navegação. Num desses ataques, por volta de 1660, os corsários foram à já desaparecida ermida de Nossa Senhora do Queimado e, depois de uma escaramuça com o ermitão, lançaram a imagem de Nossa Senhora para um silvado próximo, a que deitaram lume. Não tendo o incêndio consumido a imagem, logo a crença religiosa das gentes atribuiu o caso a milagre.
Em março passado, durante alguns dias, a Junta de Freguesia de Porto Covo promoveu a abertura do forte, onde foi instalada uma exposição, com painéis que contam a história do espaço e, simultaneamente, foi apresentado um vídeo com imagens aéreas da povoação de Porto Covo, da ilha e da costa. Temas como a história antiga, da Idade do Bronze e do período romano, a campanha de obras para o porto marítimo, levada a efeito na época filipina, a edificação dos fortes, a memória dos banhos santos e o mundo subaquático permitiram aos visitantes um conhecimento que lhes permitiu melhor entender a impressionante paisagem que dele se pode usufruir.
Todos desejamos que esta realização tenha sido o primeiro passo para uma nova vida do forte, com abertura regular ao público e animado por um programa cultural e desejavelmente um pequeno serviço de cafeteria. É necessário organizar as coisas previamente, e aqui a autarquia (Câmara Municipal e Junta de Freguesia) terá um papel fundamental, quer procurando um acordo com a Direção Geral do Tesouro, que tutela o edifício, quer preparando um programa de utilização. Sabe-se que, sendo um imóvel classificado, o seu uso está sujeito a cumprir regras especiais, facto que não constitui um problema, mas tão-só o compreensível quadro em que deverão decorrer as ações necessárias.
Uma vez que o encerramento do forte e o seu não usufruto público resulta incompreensível para todos, visitantes e moradores, afigura-se que só as entidades locais, sensibilizadas e interessadas na melhoria do território que têm sob sua administração, poderão ter condições e empenho para iniciar o processo.
Considerando-se que existe vontade, como ficou demonstrado pela abertura breve que agora se verificou e pelas afirmações então proferidas pelo sr. presidente da Câmara de Sines e pelo sr. presidente da Junta de Porto Covo, urge continuar o processo. Sentar todos os agentes à mesa e gizar um plano parece o necessário passo seguinte.



Outros artigos de António Martins Quaresma

COMENTÁRIOS

* O endereço de email não será publicado

07h00 - quinta, 24/04/2025
Oficina em Milfontes
para trabalhar
a criatividade
Trabalhar a "capacidade de criar" dos participantes, "com inspiração na primavera do Sudoeste Alentejano", é a proposta de uma iniciativa da Oficina na Escola, na Ribeira da Azenha, em Vila Nova de Milfontes, para este fim de semana, dias 25 a 27 de abril.
07h00 - quinta, 24/04/2025
Dois restaurantes
do Alentejo Litoral
no Guia Repsol
Dois restaurantes do Alentejo Litoral surgem entre os 194 espaços de restauração portugueses distinguidos na edição deste ano do Guia Repsol, cujos prémios foram entregues recentemente, numa cerimónia realizada em Santarém.
07h00 - quinta, 24/04/2025
Festejar a Liberdade
no Alentejo Litoral!
Música, teatro e artes performativas são alguns dos destaques na programação que os cinco municípios do Alentejo Litoral prepararam para celebrar o 51º aniversário da "manhã inteira e limpa".
07h00 - sábado, 19/04/2025
Evento solidário
em Santa Margarida
da Serra
A Associação Despert'Alfazema promove neste sábado, 19, um baile de Páscoa, de cariz solidário, em Santa Margarida da Serra, no concelho de Grândola.
07h00 - quinta, 17/04/2025
Agricultura no Perímetro
do Mira com menos restrições
O Governo levantou algumas restrições à agricultura devido ao aumento da cota da barragem de Santa Clara, no concelho de Odemira, mas o presidente da Câmara Municipal não esconde a sua preocupação, defendendo uma gestão sustentável deste recurso.

Data: 17/04/2025
Edição n.º:

Contactos - Publicidade - Estatuto Editorial