09h34 - quarta, 06/12/2023
Os riscos do populismo!
Carlos Pinto
Henrique Raposo escreveu-o esta semana, num artigo de opinião publicado na edição digital do "Expresso": "Neste momento, parece que todos os atores políticos, judiciais e mediáticos são fantoches unidos à mão do Chega; parece que estamos a viver dentro de um filme escrito pelo Ventura. Depois do extremo populismo do ministério público e da imoralidade evidente de diversos homens de confiança de Costa que levaram à queda do governo, agora surge mais um caso que alimenta a grande mentira populista: eles, os poderosos do sistema, são todos uns bandidos, estão lá apenas para enriquecer e ajudar os seus com cunhas e contatos".
Na origem do texto estão, evidentemente, a Operação Influencer, que levou à demissão do primeiro-ministro, António Costa, e à exoneração do seu governo, e o caso das duas gémeas luso-brasileiras, tratadas em Lisboa, através do SNS, com o medicamento mais caro do mundo, depois do filho de Marcelo Rebelo de Sousa ter dado conhecimento do caso ao pai, o Presidente da República.
Ambos os casos não estão de todo ligados e podem, inclusive, a revelar que ninguém cometeu qualquer tipo de ilegalidade ou, sequer, algum ato de menor legitimidade moral e/ou ética. Ainda assim, ambos os casos vão sendo "cozinhados em lume brando" por alguma comunicação social, que ao mesmo tempo que pré-estabelece sentenças sobre os visados vai "alimentando" o crescimento do populismo em Portugal.
Ao contrário do que muitos escreveram e disseram, o facto de termos vivido sob ditadura até há quase meio século não criou nos portugueses uma "armadura" capaz de nos manter afastados dos movimentos populistas que se têm vindo a alastrar pelo mundo fora. Já vimos o que aconteceu em democracias sólidas, como a dos EUA, ou em países saídos do bloco soviético, como a Hungria. Uma tendência confirmada nos últimos meses em Itália, na Holanda, na Argentina e cada vez mais provável em França.
Portugal tem "resistido" a estes cantos de sereia, mas o populismo tem sabido reinventar-se e continua a granjear apoiantes, da direita à esquerda!, criando o risco de virmos a celebrar os 50 anos do 25 de Abril tendo no Parlamento um partido racista, misógino e xenófobo com mais de duas dezenas de deputados eleitos.
A última palavra caberá, naturalmente, aos eleitores. Mas que todos percebam que quem vende soluções fáceis para todos os problemas, dizendo apenas aquilo que se quer ouvir, dificilmente terá um projeto estruturado e estratégico para o país. E será, seguramente, uma ameaça àquilo que temos de mais precioso: a liberdade!
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